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Alunos nativos digitais sabem usar melhor a tecnologia do que o professor?

Você já deve ter ouvido falar que a tecnologia está na palma da mão. Mas, na palma da mão de quem exatamente: do professor ou do estudante? Nesse quesito, quem sabe mais? Existe um abismo digital entre eles? 

Se levarmos em consideração a geração de cada um, os professores são imigrantes digitais, enquanto os estudantes já nasceram cercados de inovações e tecnologias, os chamados nativos digitais, como defende o escritor americano e palestrante em educação Marc Prensky. Assim, eles são mais familiarizados com esse mundo cibernético conectado do que os educadores. 

Por utilizarem as ferramentas digitais de forma intuitiva, os alunos trazem consigo novas formas de olhar, pesquisar, aprender, interagir, socializar e se conectar com o mundo. No entanto, é preciso refletir sobre como eles utilizam a tecnologia. Sendo assim, o ambiente educacional ainda deve ser o espaço para articular seus interesses e necessidades às habilidades e expectativas de aprendizagem. E a mediação do professor é fundamental nesse processo. 

“Os alunos trazem consigo novas formas de olhar, pesquisar, aprender, interagir, socializar e se conectar com o mundo. No entanto, é preciso refletir sobre como eles utilizam a tecnologia” 

Da articulação entre estudantes nativos digitais, professores imigrantes digitais e inovações tecnológicas, surge a necessidade de discutir cada vez mais o chamado letramento digital, que envolve habilidades para acessar, processar e integrar múltiplas competências, além de manusear e realizar a leitura das mais variadas mídias a favor da aprendizagem.  

Para apoiar os estudantes nesse percurso, como professores devemos estar abertos ao conceito de “lifelong learning” (aprendizado ao longo da vida) e à filosofia de que nunca é tarde para aprender algo. Podemos explorar novas metodologias, novas formas de ensinar e novas formas de avaliar. Isso é compreender que, apesar de não sermos nativos digitais, podemos descobrir e desenvolver novos talentos, além de aprimorar os existentes. Os resultados dessa abertura terão muitos impactos na sala de aula e em nosso ambiente de trabalho, que no caso é a escola. 

A formação continuada deve fazer parte da rotina do professor, assim como a chamada que é realizada todos os dias de aula para registrar a frequência da turma. Assim como acontece em outras áreas, essa atualização é fundamental para atender novas demandas, sendo considerada uma peça fundamental para a carreira do educador.  

Mas não é apenas a formação que movimenta as ações pedagógicas. Refletir sobre a própria ação docente também é fundamental, porque é por meio disso que conseguimos identificar se estamos usando a tecnologia de fato para facilitar a compreensão dos estudantes ou se isso está dificultando ainda mais o trabalho. Ela deve sempre facilitar, e não complicar.  

Desafios e reflexões sobre o uso de tecnologia com nativos digitais  

Mediar a aprendizagem em uma era de tecnologias digitais exige arquitetura pedagógica e engenhosidade em articular recursos físicos e digitais, tanto para crianças quanto para adolescentes. Acredito que o maior dilema do educador, nesse caso, encontra-se no equilíbrio pedagógico, que deve sempre promover uma reflexão crítica sobre as metodologias inovadoras que serão trabalhadas e o contexto pedagógico de cada educador.

“Por mais que os estudantes sejam nativos digitais, é o professor que vai criar estratégias para conduzi-los a fim de alcançar um objetivo pedagógico com o uso de tecnologia” 

Outro ponto de atenção é o de desenvolver para os nativos digitais estratégias que não sejam restritas apenas ao manuseio mecânico de aplicativos, softwares, sites e jogos. Ou seja, para conquistarmos a sala de aula com diferentes recursos, que atendam ao perfil dos nativos digitais, é preciso que o professor seja um agente mediador, que enxerga muito além do uso de ferramentas e está atento à qualidade e à finalidade das inovações tecnológicas no contexto educacional. 

Planejar uma atividade mediada pelo uso de tecnologia envolve inúmeras ações para trabalhar conteúdos pedagógicos e ao mesmo tempo promover o letramento digital dos estudantes, seja para localizar uma informação com fonte e filtrar conteúdos ou analisar o que foi proposto com criticidade, sintetizar e publicar com proficiência. Isso pode ser adaptado a qualquer idade, desde que seja respeitada a identidade da turma.  

Por mais que os estudantes sejam nativos digitais, é o professor que vai criar estratégias para conduzi-los a fim de alcançar um objetivo pedagógico com o uso de tecnologia. Portanto, não é preciso ter medo desse dilema de quem sabe mais. A troca de saberes, habilidades e conhecimentos entre as duas gerações é uma verdadeira dádiva educativa.  

* Conteúdo produzido e editado pelo Porvir.  

LÍGIA MONTEIRO 

Formada pelo CEFAM em Magistério. Pedagoga pela Universidade Mackenzie, possui especializações nos cursos de Psicopedagogia Educacional, Tecnologia Educacional, Mídias na Educação, Design Instrucional e PIGEAD – Planejamento, Implantação e Gestão de Cursos à Distância. Tem formação em mentoria para Educação pela FGV – Fundação Getulio Vargas. Mestre pela Universidade Aberta de Portugal, em Lisboa, no curso de Comunicação Educacional e Mídias Digitais. É docente da educação superior no curso de Pedagogia, desenvolve projetos educacionais que envolvam temáticas no âmbito das tecnologias e inovações digitais integradas à educação para potencializar a aprendizagem em contextos educativos formais e não formais de ensino. Também é CEO e Mentora da EdTEch Trinità Educativa, que desenvolve programas de formação profissional com trilhas de aprendizagem para transformação digital em ambientes educacionais e corporativos, promovendo o lifelong learning, por meio de mentorias, cursos, palestras, workshops, imersões, masterclass, mastermind, transmissão ao vivo e eventos.

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