Imagine a cena 1 em uma turma de Ensino Fundamental: um professor faz uma apresentação sobre o Pantanal, fala sobre suas características, a vegetação, localização, clima e as queimadas de 2020. Faz tudo isso em uma aula expositiva, apresentando uma projeção na parede enquanto os estudantes ouvem.
Agora imagine a cena 2: um educador pergunta o que os estudantes querem saber sobre o Pantanal. Nesta conversa, nascem uma série de perguntas que precisam de respostas, e os estudantes fazem suas próprias investigações sobre o tema em um projeto de pesquisa. Em qual das cenas os alunos aparecem com mais interesse pelo assunto?
Muito provavelmente você respondeu “cena 2”. Acertamos? É este tipo de dinâmica que José Armando Valente, livre docente da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) defende para a educação deste século. “Na minha concepção, a escola inovadora seria totalmente baseada em projetos.” Mas o que exatamente é um projeto?
É o “primeiro P” da Aprendizagem Criativa, de quem falamos sobre a definição aqui. Nesta abordagem, o professor, atento às necessidades e interesse dos estudantes, propõe situações de aprendizagem em que eles próprios são protagonistas. Esta configuração das atividades envolve os estudantes em uma construção dos conhecimentos, exercendo a curiosidade, a criatividade e os 4Ps da Aprendizagem Criativa propostos por Mitchel Resnick: Projetos, Paixão, Pares e Pensar Brincando. Tudo isso resgata o comportamento das crianças no Jardim de Infância.
“Das perguntas podem nascer projetos, do mesmo modo, podem nascer projetos a partir dos interesses que as crianças têm”
“Das perguntas podem nascer projetos, do mesmo modo, podem nascer projetos a partir dos interesses que as crianças têm”, exemplifica o professor José Valente, organizador do livro “ABInv Aprendizagem Baseada na Investigação”.
“Nesta proposta, os estudantes assumem o comando elaborando um projeto a partir do que gostam e assim, investigam, pesquisam, propõem soluções para problemas, testam, trocam ideias e ao decorrer deste processo, estudam os componentes curriculares necessários para a implementação do seu objetivo”, exemplifica a professora Adriana Sousa, adepta dos projetos no Centro Juvenil de Ciência e Cultura de Vitória da Conquista (BA).
Os projetos permitem às crianças e jovens mobilizarem diferentes áreas de conhecimento e interesses. Neste caso, o papel do professor é o de favorecer o aprendizado com base em descobertas que surgiram das pesquisas realizadas sob sua orientação. O educador incentiva uma visão interdisciplinar do conhecimento, além de estimular o aprendizado por meio da experiência.
“Nesta proposta, os estudantes assumem o comando elaborando um projeto a partir do que gostam e assim, investigam, pesquisam, propõem soluções para problemas, testam, trocam ideias e ao decorrer deste processo, estudam os componentes curriculares necessários para a implementação do seu objetivo”
Adriana Sousa relata que os projetos, por serem individuais e de interesse dos alunos, podem ser uma forma de liberdade para exercer a curiosidade, o estudo e a pesquisa, além de possibilitar o envolvimento mais contínuo e perene dos estudantes.
Para Valente, o protagonismo do estudante deve começar desde a escolha do projeto a ser trabalhado. “Eu não gosto dessa ideia do professor apresentar o projeto. O projeto fica sendo do professor, e não do aluno”. Para isso, ele enfatiza que o educador tem o desafio de adaptar a temática do projeto ao Projeto Político Pedagógico da Escola e aos conteúdos curriculares que devem ser cumpridos. “A pergunta interessante e instigante não vem do professor, vem da curiosidade dos alunos”, complementa.
Dicas de perguntas para fazer ao longo do processo
“É preciso ter sensibilidade e atenção para questionar e instigar a curiosidade dos estudantes no decorrer do processo de desenvolvimento do projeto”, diz a professora Adriana Sousa. Ela dá algumas dicas de perguntas a serem feitas, enfatizando o processo e não o produto, já que o erro também faz parte da aprendizagem.
Confira as sugestões de perguntas:
“O que te motiva neste projeto?”
“O que espera que aconteça?”
“E se tivesse feito isso, o que poderia ter acontecido?”
“E se fizer aquilo, daria certo?”
“Qual o caminho que quer seguir? Por quê?”…
Professor do Ensino Média no Colégio Santa Cruz, na cidade de São Paulo (SP), Nathan Rabinovitch ainda reforça que “o projeto é onde acontecem as coisas”. “Mais do que trazer o interesse dos alunos é importante trazer este conceito: eles são os donos do que estão fazendo e do caminho que escolheram seguir”, conclui.
Autora: Mayara Penina
* Conteúdo produzido e editado pelo Porvir.