Com a internet, temos ao nosso dispor uma variedade gigante de informações, conteúdos, plataformas e ferramentas digitais. Assim, cresce a necessidade de saber selecionar o que é de qualidade e o que pode agregar em nosso dia a dia. Essa é a lógica de ser um curador de recursos educacionais digitais, uma habilidade cada vez mais importante para os educadores saberem utilizar as ferramentas mais eficazes com seus alunos.
Um curador é uma pessoa que sabe selecionar um objeto diante de muitas possibilidades, por isso o professor precisa enriquecer seu repertório e saber o que está ao seu dispor. É o que explica Ana Paula Gaspar, MBA em Comunicação Digital e assessora de tecnologia educacional na Escola Vera Cruz, em São Paulo (SP). “O professor precisa ser um curioso, uma pessoa que pesquisa, que está em busca dessas ferramentas e que as experimenta antes mesmo de apresentá-las aos seus estudantes”, aponta.
Foi o que fez a professora Carinna Pires Beliene, da Escola Estadual Ana Tereza Albernaz, em Chapada dos Guimarães (MT). Licenciada e bacharel em Ciências Biológicas e mestre em Saúde Coletiva, ela conta que foi inserindo a tecnologia em sala de aula no decorrer dos anos de experiência, quando foi percebendo que trabalhar com livros didáticos, cartazes e maquetes não bastava. “Os alunos estão inseridos nesse campo tecnológico, então eu precisava trazer isso para dentro da sala de aula”, conta.
“O professor precisa ser um curioso, uma pessoa que pesquisa, que está em busca dessas ferramentas e que as experimenta antes mesmo de apresentá-las aos seus estudantes”
Como as primeiras escolas em que trabalhou tinham um acesso muito limitado à tecnologia, ela usava o próprio celular para mostrar imagens e trabalhar interpretação. De forma autônoma, Carinna buscou aprender mais sobre tecnologia com cursos, pagos e gratuitos, e colocar os aprendizados em prática. E com a pandemia, o trabalho com recursos tecnológicos deslanchou de vez.
Para Maria da Graça Moreira da Silva, doutora em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, os professores já são curadores, mas precisam de uma metodologia para buscar ferramentas específicas com um olhar atento a aspectos tecnológicos, pedagógicos e interativos. “Todos os professores fazem curadoria, mas é preciso ter essa intencionalidade e tornar esse processo mais sistematizado, de forma que ele possa ter um olhar próprio para aquilo”, explica.
Existem diversos caminhos para os educadores enriquecerem seus portfólios de possibilidades, como busca ativa, cursos e troca entre pares. Maria da Graça lembra que o professor não precisa fazer esse percurso sozinho, e que existem diversos portais, como do Ministério da Educação ou do CIEB (Centro de Inovação para a Educação Brasileira), em que há dicas de recursos digitais. “Existe toda uma rede de apoio para ajudá-lo a fazer essa curadoria”, lembra.
“Todos os professores fazem curadoria, mas é preciso ter essa intencionalidade e tornar esse processo mais sistematizado, de forma que ele possa ter um olhar próprio para aquilo”
No site do CIEB, por exemplo, é possível encontrar a Matriz de Competências Digitais na Formação de Professores, que traz a importância de inserir competências digitais na formação de professores e referências sistematizadas que podem apoiar esse desenvolvimento.
Como começar uma curadoria?
A curadoria tem que partir do planejamento das aulas, dado que o primeiro passo é entender qual é o seu objetivo e qual abordagem pedagógica será usada com os estudantes. “Sabendo isso, o professor deve buscar a ferramenta que vai corresponder ao planejamento dele”, explica Maria da Graça. “A ferramenta tem que se adaptar ao seu trabalho, e não o processo pedagógico se adaptar a uma ferramenta.”
Depois, é preciso saber em quais lugares procurar ferramentas. Ana Paula lembra que é importante pesquisar recursos e referências em lugares confiáveis. “Está na pauta de todo professor hoje ensinar um estudante a fazer pesquisa em lugares confiáveis, sobretudo com o advento das fake news, então a mesma coisa vale para o professor”, compara.
“Está na pauta de todo professor hoje ensinar um estudante a fazer pesquisa em lugares confiáveis, sobretudo com o advento das fake news, então a mesma coisa vale para o professor”
Ela também reforça que é importante se atentar ao modelo de negócios do aplicativo e à qualidade pedagógica dele. “Um recurso pode ser gratuito, mas exibe propagandas e de repente aparece algo impróprio para a idade do aluno”, exemplifica a especialista. “Tem também muito objeto digital de aprendizagem com erros de português ou erros conceituais. Não é simples, não é fácil, mas é preciso ter clareza desses aspectos.”
Na hora de escolher um recurso, a professora Carinna conta que primeiro faz um estudo para saber se ele está alinhado às habilidades do currículo regional e da BNCC, e se ele pode de fato agregar ao planejamento que foi feito. “Depois, eu vou procurar saber como aplicar essa ferramenta digital, e no ensino remoto essa preocupação ficou ainda mais importante, porque agora eu lido com situações distintas [de acesso à tecnologia]”, conta a professora.
A importância de aprender com pares
Na hora de buscar bons recursos educacionais digitais, as especialistas também destacam a importância de professores trocarem conhecimentos e experiências entre si. “A forma mais efetiva para professores aprenderem algo novo sobre sua prática profissional é entre pares, então é super importante que isso esteja na pauta da sala de professores, que eles troquem ferramentas, que eles falem sobre o que estão usando”, destaca Ana Paula.
Do ponto de vista da instituição escolar, Ana Paula reforça que esses momentos de troca precisam ser oportunizados com intencionalidade. Também é importante que as escolas invistam em formações de longo prazo, com momentos que permitam o professor experimentar ferramentas e recursos através de uma homologia de processos.
Para Carinna, os professores estão vivendo um momento muito positivo em relação a essa interação, principalmente por compartilharem muitos desafios. Em sua escola, os educadores sempre fazem reuniões quando possível e compartilham ideias nos grupos de WhatsApp, reunindo profissionais por disciplinas ou áreas de afinidade. “Estamos buscando soluções juntos, estamos pensando muito mais fora da caixa. Às vezes, estudando uma ferramenta lembramos daquele colega e vamos falar com ele”, conta.
Além disso, Carinna também participa de uma rede de educadores, a Conectando Saberes, que reúne professores da rede pública de diversos municípios do Brasil. “Isso auxilia muito o compartilhamento de cursos, informações, ideias, projetos e experiências e enriquece muito o repertório na hora de aplicar as ferramentas digitais”, complementa.
Onde pesquisar?
Confira dicas de sites que trazem curadorias de ferramentas digitais e recursos que podem apoiar os educadores:
CIEB: O portal do CIEB reúne diversos conteúdos, guias e ferramentas sobre inovação e tecnologias educacionais. Vale a pena ficar de olho para estar sempre em dia com seus conhecimentos!
Escola Digital: A Escola Digital é uma plataforma gratuita de busca que reúne mais de 30 mil recursos digitais de aprendizagem. É possível filtrar os resultados por disciplina, etapa de ensino, acessibilidade e outros critérios.
Guia EduTec: Desenvolvido pelo CIEB, o Guia EduTec faz um diagnóstico do nível de adoção de tecnologia educacional por professores e escolas, apontando caminhos para as melhores práticas.
Plataforma EduTec: Também desenvolvida pelo CIEB, a Plataforma EduTec permite a busca de recursos digitais, além de contar com um glossário com termos e conceitos do universo das tecnologias educacionais.
Plataforma MEC de Recursos Educacionais Digitais: Além de pesquisar recursos digitais, na plataforma do MEC é possível salvar recursos, acessar materiais de formação e relatar sua experiência, assim como ver a dos demais colegas.
Nova Escola – Cursos: Além de conteúdos voltados a educadores, a Nova Escola também possui uma seção em que reúne cursos gratuitos e pagos que podem aprofundar seus conhecimentos em tecnologia.
Porvir: No site do Porvir, você encontra tanto o Guia Temático de Tecnologia na Educação, quanto recomendações sobre o uso das ferramentas digitais e as principais novidades sobre o tema.
Autora: Aline Naomi.
* Conteúdo produzido e editado pelo Porvir.