Em um mundo que passa por rápidas mudanças, principalmente com os avanços tecnológicos, é fundamental trazer a inovação e a criatividade para a sala de aula. Além de preparar os alunos para lidar com desafios e questões complexas, essa postura contribui com o desenvolvimento integral de crianças, adolescentes e jovens.
Por isso, a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) traz dez Competências Gerais a serem desenvolvidas ao longo da Educação Básica. São conhecimentos, habilidades e atitudes para que o estudante seja capaz de resolver demandas complexas do cotidiano, do exercício da cidadania e do trabalho.
Para várias dessas competências, uma coisa é fundamental: a criatividade. Por isso, é importante conhecer e levar para a sala de aula a Aprendizagem Criativa, metodologia que tem como base quatro princípios, os famosos 4Ps:
- Projetos: os estudantes são convidados a pensar e construir todo o processo de aprendizagem, possibilitando o compartilhamento com seus pares;
- Parcerias: os trabalhos são desenvolvidos como atividades sociais, com o compartilhamento de ideias e a colaboração;
- Paixão: os projetos são desenvolvidos a partir do interesse próprio dos estudantes;
- Pensar brincando: experiências lúdicas potencializam a aprendizagem.
Listamos aqui sete experiências de Aprendizagem Criativa para inspirar sua prática em sala de aula. São projetos que proporcionam ao aluno a experiência de criar, explorar e construir seu conhecimento. Confira:
1. Monstro das cores e as nossas emoções
No projeto para a Educação Infantil, a professora Viviane Aparecida usou o livro “O monstro das cores”, de Anna Llenas, para que as crianças pudessem aprender a reconhecer, nomear e expressar seus sentimentos. Houve a construção de um emocionômetro, um recurso lúdico usado pelos alunos nesse processo.
A professora usou a literatura infantil como recurso para trabalhar o tema com a turma. Ao final do projeto, os alunos confeccionaram um boneco e customizaram o objeto de acordo com suas experiências, atribuindo sentimentos às cores e texturas usadas.
Desenvolvido por Luiz Felipe Lins, professor de matemática e educador do ano no Prêmio Educador Nota 10 em 2020, o projeto surgiu a partir da curiosidade dos alunos do 7º ano na construção de moradias populares na região. Com esse interesse, o professor teve a ideia de trabalhar geometria a partir das plantas presentes nos próprios panfletos dos imóveis.
Durante as atividades, os alunos tiveram que idealizar o projeto de uma casa. Para isso, fizeram cálculos de área; cálculos da quantidade de materiais, como argamassa; planilha de orçamento; entrevistas com pedreiros e engenheiros. As atividades foram realizadas em grupo e a solução dos problemas foi pensada de forma colaborativa.
3. Mulheres na agricultura familiar de Itabira
No interior de Minas Gerais, a professora Maria Kleire Mendes promove a iniciação científica entre alunos dos anos finais do Ensino Fundamental. Um dos projetos desenvolvidos por ela foi a investigação da origem da merenda escolar.
De início, os estudantes tiveram que aplicar uma pesquisa dentro da escola para saber quantas pessoas sabiam de onde vinham os alimentos. Na investigação, a turma descobriu não só que os itens vinham da agricultura familiar, como também que a maioria desses negócios eram tocados por mulheres.
Assim, a turma realizou diversas entrevistas — algumas presencialmente e outras de forma online — com essas mulheres. Os registros foram compartilhados com os demais alunos.
4. Produção textual do gênero fábulas
O professor Marinaldo Sarmento dá aulas para uma turma multisseriada em Barcarena, no interior do Pará. Seu projeto trabalhou o gênero fábulas com alunos de 4 a 11 anos, trazendo elementos regionais para a sala de aula. O docente também lançou mão de estratégias de trabalho colaborativas, como a formação de grupos.
Ao final do projeto, cada um dos grupos tinha que produzir uma fábula de forma coletiva. Os alunos mais novos atuavam como ditantes, enquanto os mais velhos atuavam como escribas.
Foi com esse projeto que a professora Débora Garofalo foi indicada ao Global Teacher Prize em 2019, sendo a primeira mulher brasileira a ficar entre os dez finalistas. Atualmente, coordenadora do Centro de Inovação da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, Débora ensina como outros docentes podem replicar práticas como essa.
O projeto trabalhava com alunos do 6º ao 9º ano da EMEF Almirante Ary Parreiras, levando-os para as ruas da região para recolher resíduos. Esses detritos eram reciclados e usados para a construção de robôs e materiais de eletrônica. Hoje, a iniciativa serve como inspiração para políticas públicas na Secretaria Estadual de Educação de São Paulo.
Este é mais um exemplo de projeto criado a partir da realidade dos alunos e dos desafios presentes no entorno da escola. A grande presença de imigrantes ganeses e haitianos na cidade de Criciúma (SC) fazia com que eles tentassem se comunicar em inglês com os habitantes. Com essa percepção, a professora Cristiane Dias, finalista do Prêmio Educador Nota 10 em 2018, pôde enriquecer o vocabulário de seus alunos na EEB Maria José Hulse Peixoto.
A docente iniciou o projeto falando sobre a xenofobia. Depois, pediu aos alunos que buscassem termos e expressões relacionadas a direções e informações em inglês. Em determinado momento, os alunos construíram diálogos em pares e apresentaram para a sala com áudio, interpretação e uso de aplicativos.
7. Do contexto crio uma biografia
Com a pandemia e o ensino remoto, muitos professores passaram a usar o WhatsApp como ferramenta pedagógica. Foi o que aconteceu com este projeto realizado na Escola Municipal de Ensino Fundamental Olga Benário, com alunos do 2º ao 5º ano, em Belém (PA).
Diante do fechamento das escolas, as professoras Maria de Nazaré e Soraya de Cássia utilizaram o app para conhecer seus alunos, que gravaram áudios e vídeos sobre eles com o apoio dos responsáveis. A partir daí, elas introduziram o gênero biografia e orientaram que os estudantes pesquisassem a biografia de personalidades que dão nome a ruas e espaços públicos na cidade.
O trabalho contou com a participação dos familiares, que passaram a conhecer melhor o território ao ajudarem seus filhos e filhas nas tarefas. O projeto resultou em um documentário, chamado “Minha rua conta uma história”. Além de incentivar a pesquisa e produção de seus alunos, o trabalho desenvolveu a autoestima deles, que muitas vezes eram discriminados por conta do local onde moravam.
Autora: Aline Naomi
* Conteúdo produzido e editado pelo Porvir.
Saiba mais sobre a Aprendizagem Criativa nas escolas e as transformações nos modelos pedagógicos, neste vídeo, preparado pela Faber-Castell Edux, em parceria com Bianca Solléro: