Foram muitos os desafios da educação durante o período de ensino remoto, e essas dificuldades se agravam quando falamos dos estudantes com deficiência. Uma pesquisa feita pelo Datafolha e pelo Plano CDE mostra que 31% desses alunos não conseguiram acompanhar as atividades a distância e 17% perderam o interesse pelos estudos. Diante desse cenário, para reduzir barreiras e promover uma educação inclusiva, as metodologias ativas oferecem estratégias interessantes para os professores tornarem o aprendizado significativo para todos os estudantes.
“Uma educação inovadora faz uso das metodologias ativas como ferramenta que reduz as barreiras metodológicas e tornam a prática pedagógica mais flexível e acessível para todos”, pontua a psicóloga Regiane Silva, responsável técnica do “Guia do Educador Inclusivo” e profissional com 37 anos de experiência em inclusão de pessoas com deficiência intelectual e de desenvolvimento.
A especialista explica que as metodologias ativas respeitam a diversidade de estilos de aprendizagem, de formas de expressão e de representação dos estudantes. Aliadas aos recursos de acessibilidade, elas permitem que estudantes com deficiência se envolvam com o conteúdo de forma mais funcional e significativa.
“Uma educação inovadora faz uso das metodologias ativas como ferramenta que reduz as barreiras metodológicas e tornam a prática pedagógica mais flexível e acessível para todos”
Luiz Conceição, coordenador de formação do Instituto Rodrigo Mendes, referência quando o assunto é a educação de pessoas com deficiência, concorda que o uso de metodologias ativas favorece uma aprendizagem mais significativa se comparada com o ensino tradicional.
“Por mais brilhante que seja uma palestra, por melhor que seja a intenção, isso não necessariamente muda a prática”, exemplifica Luiz comparando a situação da sala de aula com as palestras que dá a professores sobre educação inclusiva. “Tenho que ver esse sentido, tenho que entender, tenho que fazer algum tipo de ligação com a minha própria produção, com o meu próprio fazer.”
Possibilidades para alunos com deficiência
Ana Beatriz Ramalho e Raquel Vendramin do Colégio Marista Paranaense, em Curitiba (PR), são professoras do Bernardo, um aluno com transtorno do espectro autista. A primeira é responsável por dar as aulas no espaço maker da escola, já a segunda é a professora regente responsável pelas atividades de aprendizagem criativa com as turmas do 2º ano.
Raquel conta que, no início, Bernardo era muito tímido. Porém, quando descobriu que nas atividades no espaço maker ele poderia usar seu potencial criativo, o aluno foi se entusiasmando com as aulas. “Toda vez que nós íamos para a aula da Bia, ele dizia: ‘Hoje é dia de criação’”, relembra Raquel.
O trabalho com a criatividade também impactou a forma como o aluno encarava conteúdos fora do espaço maker. Raquel conta que um dia, trabalhando Língua Portuguesa por meio de um texto instrucional, que tratava sobre como montar um boneco de rolo de papel higiênico, ela percebeu que Bernardo tinha se fixado no material.
“Como professora, como educadora, eu não estava percebendo o porquê daquele encantamento”, explica Raquel. No dia seguinte, porém, o aluno apareceu com um boneco construído, ainda que essa não fosse uma atividade proposta pela professora.
“Em um texto trabalhado de forma tradicional, Bernardo não teria percebido a possibilidade de criar, de mexer, de construir”, conta Raquel. “Ele foi com esse texto na memória para casa, usou a criatividade para fazer, montar e trazer para os colegas e para todos verem.”
Como promover a inclusão de forma eficaz?
É fácil cair nas armadilhas da exclusão. Por isso, Regiane reforça que o professor precisa estar atento e identificar barreiras que podem impedir o aluno com deficiência de participar de forma plena da proposta pedagógica ofertada a todos. O primeiro passo é ter a escuta ativa para conhecer e se conectar com o estudante.
“Independente da condição de participação do estudante com deficiência, conhecê-lo além de sua deficiência vai fazer toda a diferença, pois o foco está nas suas competências, e não nas incapacidades”
“Independente da condição de participação do estudante com deficiência, conhecê-lo além de sua deficiência vai fazer toda a diferença, pois o foco está nas suas competências, e não nas incapacidades”, pontua a psicóloga.
Luiz adiciona ainda que esse processo de escuta é importante para que a proposta pedagógica seja construída conforme as necessidades e potencialidades desse aluno. “Do nosso ponto de vista, além de serem ativas, elas [as metodologias] têm que ser dialógicas, ou seja, nós temos que escutar essas crianças e, dentro desse diálogo que se estabelece, aí sim ir criando”, explica.
Os benefícios das metodologias ativas aparecem também na hora da avaliação, ao considerar a diversidade de competências e aprendizados desenvolvidos. “As metodologias ativas ajudam muito a gente, porque você não tem só um método de prova, você tem múltiplos meios de fazer a avaliação dessa criança”, conclui Luiz.
Autora: Aline Naomi
* Conteúdo produzido e editado pelo Porvir.