A escola é um espaço de aprendizado, de vivências, de socialização e de interatividade, mas ela também faz parte de uma comunidade que pulsa. Nesse encontro, quem ganha é o estudante. E é por isso que a escola e a comunidade precisam conversar para se conhecer e se respeitar.
Nessa perspectiva, os projetos de Educomunicação promovem o diálogo usando como meio as mídias e as suas tecnologias. É uma relação de educação com a comunicação (produção de mídia) e educação para comunicação (leitura crítica da mídia). Não é apenas um uso da escola para conversar com a comunidade. É também dos estudantes atuando como “midiadores”, que criam e constroem conteúdos, e “mediadores”, que promovem aproximação entre a escola e a comunidade, algo tão desejado por educadores e pela sociedade.
Nos projetos de Educomunicação, crianças e adolescentes se articulam com a mediação do professor para discutirem e criarem suas pautas de conteúdos. Por meio dos canais de comunicação da escola, esses conteúdos são veiculados e passam a dialogar com a comunidade escolar.
“Os estudantes são fonte de informação. Eles entendem de escola porque estudam lá e entendem de comunidade porque nasceram e ou se criaram no território”
Os estudantes são fonte de informação. Eles entendem de escola porque estudam lá e entendem de comunidade porque nasceram e ou se criaram no território. Portanto, o potencial deles, que têm voz, quando ouvidos, é serem parceiros na construção de Cultura de Paz. É deles que podem surgir idéias para o melhor convívio entre eles e os colegas, entre eles e os professores e, consequentemente, entre a escola e a comunidade.
Desde 2001, a Rede Municipal de Ensino de São Paulo desenvolve projetos de Educomunicação para promover a educação midiática. Por meio de projetos de radioescola, desenvolveu-se processos de empoderamento dos estudantes pela comunicação, o que culminou na diminuição da violência em escolas mais vulneráveis.
O projeto Educom.Radio trouxe para a escola uma solução para o combate à violência, que contou com o protagonismo e a participação dos estudantes na construção de conteúdos e ecoou pelas ondas do rádio. A iniciativa foi eficaz ao ponto de se tornar política pública com a lei 13.941/2004, que instituiu o Programa Educom – Educomunicação pelas Ondas do Rádio.
De um projeto de radioescola, com escuta atenta do estudante, criou-se uma agência de notícias de crianças e adolescentes
Com o avanço da internet, os meios de comunicação tradicionais começaram a mudar. Saímos de uma realidade de consumo midiático de 1 canal, com imposição de um conteúdo em grades e horários fixos de programação, para o modelo de muitos produtores independentes que produzem para muitos seguidores.
Notícias jornalísticas com texto e imagem passaram a fazer parte de sites de programas de rádio. Em algumas emissoras, eles também ganharam a possibilidade de serem assistidos ao vivo em vídeo. Então, já era de se esperar que os projetos de mídia na escola também adotassem essa tendência.
As radioescolas começaram a ter blogs e redes sociais. Com esses espaços, a expressão dos estudantes ganhava mais terreno para prosperar e se consolidar como um território de interação deles com os seus seguidores.
Com as escolas acessando internet banda larga, crianças e adolescentes passaram a ter experiências de observação do mundo navegando pela web. Interessados em produzir conteúdos em diversos formatos, os estudantes viram seus interesses se integrando aos conteúdos que eles próprios poderiam produzir. A radioescola, que antes era um espaço de entretenimento nos intervalos, poderia ganhar relevância na comunidade com informações, notícias e prestação de serviço.
Foi então que em 2005, numa reunião de pauta da radioescola, um estudante da EMEF Pedro Teixeira disse: “Professor, podemos chamar os tiozinhos da noite para participar da Rádio?”. A pergunta se referia aos estudantes da EJA (Educação de Jovens e Adultos) que aguardavam para entrar na aula.
Quando questionamos o motivo do convite, o menino disse: “É que os tiozinhos da noite sabem contar o que acontece na comunidade”. Então, concordamos com a ideia e passamos a viabilizar a produção de programas de rádio entre estudantes adolescentes e adultos que estudavam na escola no período noturno. A experiência gerou o embrião de uma agência de notícias, que foi batizada meses depois de Imprensa Jovem.
Um espaço de expressão na escola
A Imprensa Jovem integrou novas tecnologias na escola, e a experiência de produção de conteúdos jornalísticos pelos estudantes ampliou possibilidades. Laboratórios de informática de toda a cidade passaram a ser ocupados com processos de educação para alfabetização midiática. As agências de notícias passam a ser, ao mesmo tempo, espaço de expressão dos estudantes pelas mídias e também de formação para leitores críticos da mídia.
O Imprensa Jovem se definiu a partir do diálogo de um grupo de crianças da EMEF Tarsila do Amaral, que conceituou:
“A Imprensa Jovem é um espaço de expressão. Somos uma rede e estamos em sintonia. Tudo o que acontece vira notícia”
“A Imprensa Jovem é um espaço de expressão. Somos uma rede e estamos em sintonia. Tudo o que acontece vira notícia. Contamos os fatos e acontecimentos pelos nossos pontos de vista. Registramos, editamos, publicamos e compartilhamos. Somos alunos e alunas que produzem notícias.”
Dessa forma, como os próprios estudantes definiram, o projeto Agência de Notícias Imprensa Jovem tem como proposta educativa formar estudantes questionadores. É a capacidade de criação de perguntas que torna este projeto uma ferramenta para promoção de aprendizagens. Quem pergunta, investiga o assunto e, com as respostas, tem um grande potencial de formar pessoas.
As diversas possibilidades de promover competências em um agência de notícias estudantil
O Imprensa Jovem promove a experiência de colaboração entre os estudantes, o protagonismo, a expressão da comunicação, o exercício da criatividade, o uso das tecnologias, a liberdade responsável da expressão, a inclusão, a autonomia, a produção multimídia em diversas linguagens, o desenvolvimento de projetos de intervenção social na comunidade pelos estudantes, a alfabetização midiática e a leitura crítica da mídias.
Mas como iniciar um projeto na escola?
As atividades do Imprensa Jovem são voltadas para a construção de notícias, reportagens e entrevistas. Para o desenvolvimento do projeto é necessário contar com o apoio de um professor medidor, ter um grupo de estudantes e reservar uma carga horária de 1 a 4 horas semanais.
Os recursos necessários para isso podem variar, incluindo equipamentos de uso comum dos estudantes, dispositivos móveis, tripé para celular, headphone, microfone e aplicativos, como por exemplo editores de vídeo e áudio (Filmora Go, Lexis, Anchor, Simple Telemprompter, entre outros). Isso pode ser produzido em um laboratório de informática educativa ou até mesmo em um espaço definido pela escola.
No nosso site, disponibilizamos algumas informações para apoiar educadores que desejam começar um trabalho como esse na sua escola e comunidade.
Carlos Lima é professor, educomunicador, coordenador do Núcleo de Educomunicação SMESP, criador do programa Imprensa Jovem. Ganhador do prêmio Mariazinha Fusari, Aprendizagem Criativa do MIT e Aliança Global de Educação Midiática da UNESCO