O que “Fuga das galinhas”, “O estranho mundo de Jack” e “Coraline e o mundo secreto” tem em comum além do sucesso nas bilheterias do cinema? Todas são animações feitas com a técnica de stop motion. Neste modelo de criação audiovisual, utiliza-se uma máquina fotográfica que vai registrando quadro a quadro cada pequeno movimento dos objetos em cena. Depois, as fotografias são colocadas em sequência e as histórias são montadas. É uma técnica de fácil aprendizado, baixo custo e que pode ser utilizada em sala de aula para desenvolver vários temas com os alunos.
“Para trabalhar com stop motion é muito fácil. É só ter uma ideia e colocar a mão na massa”. Quem diz isso é Fabiana Fukui, profissional de audiovisual que trabalha com animação desde 2004. Ela, que também é professora de stop motion na EBAC (Escola Britânica de Artes Criativas e Tecnologias), explica que uma produção com bonecos extremamente elaborados, figurinos sofisticados e equipamentos de última geração pode custar muito caro. No entanto, é possível fazer boas animações utilizando apenas o celular e muita criatividade no desenvolvimento da narrativa, dos cenários e dos personagens.
“Para trabalhar com stop motion é muito fácil. É só ter uma ideia e colocar a mão na massa”
Para as suas aulas, Fabiana criou uma estrutura simples: com uma mesinha, que nada mais é do que um banco com um furinho no meio, a turma pode explorar diferentes possibilidades. “O aluno coloca o celular com a câmera encaixada no furinho e consegue animar os objetos que ficam embaixo do banquinho. Uma solução barata que achei para captar imagens de cima para baixo”, exemplifica.
Criando animações em sala de aula
Marta Russo é produtora de audiovisual, educomunicadora e apaixonada por stop motion. Ela criou a Matiz Filmes Produções que, desde 2001, desenvolve cursos dessa técnica em escolas municipais e estaduais de São Paulo; também coordena oficinas de animação no programa Ponto MIS, do Museu da Imagem e do Som. Ela explica que é possível fazer animações em stop motion com qualquer material. O mais utilizado é a massa de modelar, mas o trabalho pode ser feito com recortes de papel, sucata, frutas, canetas… praticamente tudo o que é possível ser movido e fotografado.
Marta também ressalta que antes era bem mais difícil trabalhar com a técnica, pois tinha que ter uma boa câmera, um bom software de edição e, consequentemente, um bom computador. Tudo isso exigia um investimento financeiro elevado, mas também um maior domínio técnico para executar o trabalho. Assim como Fabiana, ela garante que hoje é possível fazer muita coisa apenas com o celular: “Nas minhas formações de professores, sempre uso um aplicativo chamado Stop Motion Studio. Ele possui a versão gratuita e a paga, mas mesmo na free (livre) já é possível você fotografar os quadros, organizá-los em sequência e inserir alguns efeitos. Em pouco tempo, o professor consegue perceber que é capaz de fazer animações, e isso o empolga”, explica.
Criar animações em sala de aula é muito mais do que um passatempo
Marta explica que a primeira coisa que faz em suas oficinas é desconstruir a ideia de que o trabalho com animação é só um passatempo para tornar algum momento da aula mais divertido. Para ela, é importante o professor entender o papel pedagógico da criação de uma história. “Para você fazer uma animação, você precisa desenvolver uma história, criar personagens e estabelecer relações entre eles. Ou seja, na construção dessa narrativa, o educador pode envolver os alunos em praticamente qualquer assunto de qualquer disciplina: pode estimular a pesquisa sobre um determinado tema para desenvolver o roteiro, levantar discussões sobre propostas de enredo e trajetórias de personagens. Pode também desenvolver um trabalho em equipe e a solução coletiva de problemas”, explica.
“Trabalhar com stop motion é mais fácil que trabalhar com vídeo. Se você quer falar sobre meio ambiente, pode construir uma praia ou uma floresta dentro da sala”
Ela também destaca a infinidade de possibilidades criativas que o mundo da animação pode trazer para o interior da sala de aula: “Trabalhar com stop motion é mais fácil que trabalhar com vídeo. Se você quer falar sobre meio ambiente, pode construir uma praia ou uma floresta dentro da sala. Se quer falar das Grandes Navegações, pode recriar o mundo das caravelas portuguesas e espanholas. E, se quer falar de matemática, os números podem se movimentar e falar com a voz das crianças”, exemplifica. Para isso, Marta diz que o professor precisa perder o medo da tecnologia: “mesmo que ele aperte um botão errado, nada vai explodir e ele não vai passar vergonha na frente dos alunos se estiver aberto a aprender com eles”.
Muito cuidado com a escolha da massinha de modelar
Marta faz apenas uma ressalva sobre projetos que envolvam massas de modelar: é importante prestar atenção na textura e consistência. “As massinhas precisam ser à base de plastilina. Muito mais firmes e fáceis de modelar. Isso parece um detalhe, mas é fundamental para o sucesso de uma oficina que use massa de modelar para histórias em stop motion”, explica.
Autor: Cleyton Boson
* Conteúdo produzido e editado pelo Porvir.