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Colcha de Memórias une várias gerações e disciplinas escolares

Envolvendo professores de várias disciplinas, o Programa de Aprendizagem Criativa da Faber-Castell, no Colégio Marista Arquidiocesano, em São Paulo, levou alunos do 4o Ano do Ensino Fundamental a explorar brincadeiras do passado e atuais. O registro, pensado como algo que contasse o presente para as próximas gerações, foi feito de maneira artística: através de pinturas em tecido que, ao serem costuradas juntas, deram forma a uma imensa colcha de retalhos. Ou, como foi chamado na escola, uma Colcha de Memórias.

O trabalho coletivo será exposto dentro da escola, em um local de grande visibilidade, para encher de orgulho os jovens artistas. “É algo que sempre falo aos meus estudantes: arte não é para ficar na gaveta, é para comunicação”, explica Edenilson Luiz Santanna, o professor Deni, que dá aulas de artes para a Educação Infantil e o Ensino Fundamental (Anos Iniciais) no Colégio Arquidiocesano.

A escola já tinha experiências com práticas de aprendizagem criativa, que começaram inclusive durante a fase em que estudantes e professores estavam em casa, por causa da pandemia de Covid-19. Os projetos continuaram e ganharam mais diversidade depois que as aulas voltaram ao presencial.

“Arte não é para ficar na gaveta. É para comunicação”

A colcha de retalhos envolveu profundamente os professores de Artes e Educação Física, mas contou também com a parceria do docente de inglês, além das professoras titulares das turmas de 4o Ano. “A Aprendizagem Criativa junta todos os conteúdos para transformar em um projeto. Por isso, é um trabalho que precisa ser feito em união. Na escola, temos uma parceria total, com várias reuniões durante o ano para pensar e planejar os projetos, além de reuniões semanais com os professores envolvidos em cada turma”, explica Santanna.

Essa união não é só entre os professores do mesmo ano; há temas que envolvem a escola inteira. Por causa do centenário da Semana de Arte Moderna de 1922, esse passou a ser um tema frequente a todos os professores e estudantes do Ensino Fundamental durante o ano letivo, fazendo com que as artes se tornassem um eixo comum para aprendizados em todas as áreas do conhecimento.

Passo a passo

O projeto começou com uma contextualização, com as crianças conhecendo exemplos de como o brincar de uma época pode ser imortalizado e transformado em arte. “Nas minhas aulas, as crianças viram obras de alguns artistas da Semana de 22, incluindo o [Cândido] Portinari, que fez vários quadros sobre brincadeiras na rua”, conta o professor. 

Na Educação Física, os alunos tiveram como lição de casa resgatar as brincadeiras da família, dos pais, avós, bisavós, o mais longe no tempo que fosse possível. De volta à escola, compartilharam os conhecimentos com a turma. Já na sala de Artes, usando apenas materiais recicláveis, as crianças construíram brinquedos tradicionais, como bilboquê, peteca, boliche. Voltando às aulas de Educação Física, eles puderam testar suas construções – ou seja, puderam brincar com o que eles mesmos tinham feito.

“Uma vez, Portinari contou que nunca teve um brinquedo comprado. Ele construía seus brinquedos”, relembra Santanna.

Todo o projeto também era apoiado pela professora na sala de aula, que promoveu diversas discussões com a turma. Uma delas foi justamente a diferença entre brinquedo e brincadeira: afinal, é possível brincar sem ter um brinquedo, usando apenas a imaginação? Por fim, questionou: será que as brincadeiras de hoje serão lembradas no futuro? Para guardar algo para a posteridade, ficou combinado de que cada criança pintaria em pedaços de tecido a sua brincadeira favorita.

“Entre os professores, chegamos a questionar se valia a pena deixar totalmente livre. Será que não vamos ter só videogames e celulares? Mas decidimos que se era para as crianças se expressarem, deveríamos aceitar o que viessem. No final, teve muita representação de brincadeira livre, como pega-pega, pula-sela, subir em árvore, e pouquíssimo celular”, revela o professor de Artes.

Com as pinturas prontas, os tecidos de cada classe foram costurados juntos. Agora, as “colchas” de cada turma serão costuradas em conjunto para serem expostas. Nas aulas de Inglês, as crianças fizeram convites para a exposição, a serem entregues aos colegas dos 3o Anos. O convite também foi inspirado no cartaz da Semana de Arte Moderna.  

Metodologia

O Colégio Arquidiocesano é uma das 18 escolas que têm implementado o Programa de Aprendizagem Criativa da Faber-Castell. Outras 25 escolas já implementaram a iniciativa anteriormente, alcançando um total de 10 mil estudantes. Um dos pilares da proposta são os “micromundos” de aprendizagem, ambientes temáticos que estimulam explorações e conexões pessoais com os temas e materiais disponíveis.

A ideia da colcha partiu do micromundo chamado Museu da Memória, mas a escola teve a liberdade de fazer suas adaptações. “Partimos do Museu da Memória e criamos a Colcha de Memórias”, conta Santanna.

“Eu já incorporei na minha aula essa forma de pensar. Com todos os professores juntos, a gente vai além”

A iniciativa do Programa de Aprendizagem Criativa da Faber-Castell foi desenvolvida em parceria com o pesquisador Leo Burd, do MIT Media Lab, e prevê sempre a utilização de metodologias mão na massa, estimulando a criatividade entre os estudantes através de uma abordagem multidisciplinar.

Para o professor Santanna, aprender sobre essa abordagem promoveu mudanças na forma de trabalho da escola. “Eu já incorporei na minha aula essa forma de pensar. Com todos os professores juntos, a gente vai além. Já fizemos albúm de figurinhas da Copa com o tema do fair play, por exemplo, envolvendo vários professores. Fizemos mapa de sentimentos com o professor de tecnologia para colocar luzes de led. E os resultados vão saindo da sala, indo para todos os espaços. É um caminho sem volta”, finaliza. 

Autora: Luciana Alvarez

* Conteúdo produzido e editado pelo Porvir.

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