No mundo todo, meninas e mulheres sempre realizaram grandes feitos que foram decisivos para algumas das principais transformações da sociedade. Nos anos 40, por exemplo, a austríaca Hedy Lamarr era atriz, mas gostava de atuar como inventora. Ela foi responsável por criar uma tecnologia que mais tarde seria base para o que conhecemos como wi-fi.
O Dia Internacional da Mulher é um momento importante para destacar as contribuições das mulheres em nossa sociedade. A data surgiu pela primeira vez em 1910, quando a ativista alemã Clara Zetkin pensou em uma forma de destacar conquistas de mulheres até então apagadas pela História. Em 1975, a data foi resgatada pela Organização Nacional das Nações Unidas (ONU) e se popularizou entre os países.
Na sala de aula, a data pode ajudar no resgate de biografias que muitas vezes assumiram notas de rodapé em livros e enciclopédias, mas que revelam mulheres fortes e apaixonantes. E que também ajudam a refletir sobre diversidade e quebrar estereótipos de inteligência e beleza.
Resgate e autoestima
Mais do que uma celebração, a data é um momento importante para pensar também nos principais desafios enfrentados por meninas e mulheres. Dados do Censo de Saúde Escolar mostram que, comparados aos meninos, meninas gostam menos de sua própria imagem.
Enquanto aproximadamente 76% dos meninos responderam que se sentem satisfeitos com sua aparência, apenas 31% das meninas entrevistadas declararam que estão felizes com o seu corpo. Assim, trabalhar histórias de grandes mulheres na sala de aula pode trazer diversos benefícios para a formação escolar, principalmente para as meninas.
A seguir, apresentamos oito mulheres que podem ser grandes referências para educadores, crianças e adolescentes:
- Aqualtune (-1650)
Rainha congolesa escravizada no Brasil, Aqualtune é um símbolo da realeza negra e de resistência. Com seus conhecimentos, Aqualtune ajudou a construir o sistema político do Quilombo de Palmares, uma das maiores resistências organizadas contra a escravidão.
Para conhecer mais: livro Heroínas negras brasileiras em 15 cordéis (Jarid Arraes, 2020).
- Antonieta de Barros (1901-1952)
Antonieta foi a primeira mulher negra a assumir um cargo de deputada no Brasil. Professora e jornalista, criou uma escola para combater o analfabetismo entre adultos em situação de vulnerabilidade social, e dedicou sua vida a ampliar o direito à Educação para todas as pessoas. O Dia do Professor, celebrado em 15 de outubro, foi criado em sua homenagem.
Para conhecer mais: livro Antonieta de Barros: professora, escritora, jornalista, primeira deputada catarinense e negra do Brasil (Jeruse Romão, 2021).
- Carolina Maria de Jesus (1914-1977)
Escritora negra, Carolina Maria de Jesus é sempre lembrada por sua força e bom humor nos escritos que a tornaram mundialmente famosa na década de 50, reunidos no livro Quarto de Despejo. A obra reúne crônicas sobre a vida na favela do Canindé, em São Paulo, onde Carolina morava com os filhos e trabalhava como catadora de papel.
Além da sua obra mais famosa, Carolina também se aventurou por outras manifestações artísticas. Gostava de compor marchinhas de Carnaval e de costurar fantasias. Embora esse fato de sua biografia seja pouco conhecido, é bastante inspirador pela coragem de viver e desafiar limites impostos pela sociedade brasileira, marcada pelo racismo estrutural.
Para conhecer mais: livro Carolina – Uma Biografia (Tom Farias, 2018) e textos da exposição Carolina de Jesus – Um Brasil para brasileiros, realizada pelo Instituto Moreira Salles.
- Chiquinha Gonzaga (1847-1935)
A primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil era negra, filha de uma escrava liberta e de um homem branco. Chiquinha Gonzaga foi um símbolo de quebra de padrões na época em que viveu. Escreveu a primeira marchinha de Carnaval, Ó Abre-alas, com elementos da História do Brasil e usou sua fama que conquistou na época em prol da luta abolicionista. Embora muitos historiadores tenham apagado a negritude da compositora no decorrer dos anos, esse resgate começou a ser feito mais intensamente nos dias atuais.
Para conhecer mais: material da exposição Ocupação Chiquinha Gonzaga, do Itaú Cultural.
- Frida Kahlo (1907-1954)
Uma das principais pintoras da história do México, Frida ficou conhecida por seus quadros em cores vivas, com imagens fantásticas e de grande impacto, não só visual mas também por conter críticas políticas à sociedade mexicana da época.
Aos 6 anos de idade, Frida contraiu poliomielite infantil, doença que deixou, como sequela, uma lesão em seu pé direito, e o encurtamento de uma de suas pernas. Aos 18 anos, a artista sofreu um acidente de ônibus e sofreu múltiplas fraturas no corpo. Por causa dos ferimentos, passou por 35 cirurgias em vida e foi forçada a usar colete ortopédico até morrer. Porém, ela transformou as dores em combustível para sua arte. No decorrer de sua vida, Frida pintou 143 quadros, dentre eles, 55 autorretratos.
Para conhecer mais: filme Frida (Julie Taymor, 2002) e livro Frida Kahlo: para meninas e meninos (Nadia Fink, 2015)
- Glória Maria (-2023)
Glória Maria foi a primeira mulher negra a assumir a função de repórter para apresentar notícias ao vivo e em cores na televisão brasileira. Ficou famosa por entrevistas com grandes personalidades, como Madonna e Elton John, e também por suas reportagens apresentando a cultura de diversos países.
Sua presença na televisão foi um marco por aumentar a presença de jornalistas negros nas redações, o que até hoje é um grande desafio. Dados do Perfil Racial da Imprensa Brasileira apontam que apenas 20% dos jornalistas são negros nas redações brasileiras.
Para conhecer mais: podcast Mano a Mano – Mano Brown entrevista Gloria Maria (2021), disponível no Spotify e no YouTube.
- Malala (1997-)
Ativista paquistanesa, Malala começou cedo a lutar pelo direito das meninas à educação, entre os 11 e 12 anos de idade. Aos 15, sofreu um atentado justamente por sua luta e passou a ser conhecida mundialmente. Aos 17 anos, foi a pessoa mais jovem a ganhar o Prêmio Nobel da Paz, e hoje segue na luta por mais direitos a meninas e mulheres em todo o mundo.
Para conhecer mais: livro Eu sou Malala (Christina Lamb e Malala Yousaf, 2013)
- Tereza de Banguela (1700-1770)
Foi uma mulher escravizada que, após fugir, se tornou rainha do Quilombo do Piolho, local que resistiu a escravidão por mais de duas décadas. Ficou conhecida pela liderança que exerceu na comunidade, desenvolvendo um sistema político revolucionário para os padrões da época. O dia 25 de julho celebra o Dia de Tereza de Benguela e da Mulher Negra.
Para conhecer mais: livros Heroínas negras brasileiras em 15 cordéis (Jarid Arraes, 2020) e Enciclopédia negra: Biografias afro-brasileiras (Flávio dos Santos Gomes, Jaime Lauriano e Lilia Schwarcz, 2021).
Autora: Agnes Sofia Guimarães
* Conteúdo produzido e editado pelo Porvir.