As expectativas de aprendizagem têm um impacto significativo nos resultados e nas atitudes dos estudantes. À medida que os professores demonstram que acreditam no potencial de aprendizagem de cada criança ou adolescente, mais chances eles têm de obter êxito acadêmico, indicam as pesquisas na área de neurociência e educação.
Em 1968, o psicólogo Robert Rosenthal e a educadora Lenore Jacobson fizeram um estudo em uma escola primária na Califórnia (EUA) para entender como as expectativas dos professores poderiam moldar os resultados dos alunos. Depois de avaliar 320 estudantes em um teste de QI, eles informaram aos educadores que alguns deles tinham se destacado, quando na verdade todos tiveram resultados semelhantes. O resultado disso? No final do ano letivo, o grupo que eles acreditavam ter maior potencial de desempenho se sobressaiu dos demais.
“Não é apenas uma questão de expectativa, mas como ela molda o comportamento dos professores em relação aos estudantes”, explica Ernesto Faria, diretor-executivo do Iede (Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional). Se na sala de aula o educador direciona as suas perguntas apenas a um determinado grupo de alunos ou acredita que apenas alguns deles podem chegar ao ensino superior, por exemplo, isso implicitamente cria expectativas diferenciadas. “Talvez seja mais natural se apegar àquele aluno que você percebeu que presta atenção na sua aula e parece mais engajado. Mas o professor tem o compromisso de garantir a aprendizagem de todos.”
Para cultivar uma cultura de altas expectativas de aprendizagem, Ernesto enfatiza a importância de evitar estereótipos e preconceitos. Pesquisas e indicadores educacionais que associam o desempenho acadêmico ao nível socioeconômico ou à participação das famílias não devem diminuir as expectativas dos professores em relação aos estudantes. Pelo contrário, esses fatores devem servir como indicativos de que um determinado grupo necessita de mais apoio para seu desenvolvimento. “Existem contextos que fazem determinados grupos terem um desempenho mais baixo, mas isso não tem relação com a capacidade individual do estudante”, enfatiza.
O educador deve se aproximar dos estudantes e buscar conhecê-los para evitar julgamentos preconcebidos, indica Juliana Azevedo, especialista em desenvolvimento socioemocional e gerente de conteúdo do Instituto Ayrton Senna. No início do ano letivo, com a chegada de novas oportunidades e contextos, os professores devem ter cautela ao construir imagens de uma turma ou de uma criança com base nas referências de outros colegas.”É importante não vir com um rótulo taxativo”, afirma. Ela também propõe algumas reflexões: “Por que tenho uma ideia pré-concebida de um estudante? De onde isso se originou? Quando sentei para conversar com ele?”
Altas expectativas: uma via de mão dupla
E não são apenas os professores que devem alimentar expectativas em relação ao desenvolvimento da turma. “Compreendo que a alta expectativa é uma via de mão dupla. Tenho expectativas em relação ao que os estudantes irão aprender ao longo do ano. No entanto, se eu não despertar o interesse deles e não conseguir cultivar expectativas sobre o que eles irão aprender, minhas expectativas se frustram. Para mim, essa ideia envolve um alinhamento dos dois lados”, afirma Juliana.
Ela também recomenda construir uma ambiente de acolhimento, em que o estudante perceba que tem espaço para participar. “Se ele não sente isso, pode acabar se fechando. Outra coisa importante para o estudante é entender porque ele está estudando aquilo e como isso se conecta com a vida dele”, diz.
“Quando falamos de alta ou baixa expectativa, alguns alunos sequer têm expectativa. Se você pergunta para um aluno do sexto ou sétimo ano do ensino fundamental se ele acredita que vai ingressar no ensino superior, muitas vezes não é que ele não acha que vai passar, mas às vezes ele sequer pensou sobre isso ou se conectou com essa realidade”, completa Ernesto, ao destacar a importância de nutrir as expectativas dos estudantes em relação a sua jornada acadêmica.
Como equilibrar as expectativas sem nivelar por baixo
Por fim, Ernesto também destaca que os padrões estabelecidos por indicadores nacionais também não podem baixar as expectativas em relação às aprendizagens dos estudantes. Recentemente, o MEC (Ministério da Educação) definiu os critérios sobre quais aspectos definem quando um aluno está alfabetizado, mas o especialista comenta que essa barra estabelecida pode trazer desafios e limites. Ele explica: “Eles colocaram que, ao final do segundo ano do ensino fundamental, espera-se que os alunos alcancem 743 pontos na escala do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica). Se observamos a rede privada, muitas escolas estão batendo a média de 780, 790 e até 800 pontos”, comenta. Isso traria um problema ainda maior relacionado à desigualdade. “Então, estaríamos legitimando que, aos sete anos de idade, ou algo próximo disso, a rede privada estaria muito acima da rede pública. Se o mínimo virar a barra que queremos alcançar, estamos legitimando a desigualdade muito cedo.”
Autora: Marina Lopes
*Conteúdo produzido e editado pelo Porvir.