Trabalhar a criatividade na escola é algo fundamental, tanto é que uma das Competências Gerais da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) prevê o desenvolvimento do pensamento científico, crítico e criativo. Mas nem sempre é simples para o professor avaliar e medir essa habilidade.
Quando lemos a palavra avaliação, logo nos vem à mente uma prova. De fato, é possível aplicar um teste para medir a criatividade de um indivíduo, mas que consiste em uma avaliação mais formal, aplicada por um psicólogo, para identificar algum tipo de superdotação. É o que explica Tatiana Nakano, docente do programa de pós-graduação em psicologia da PUC-Campinas e especialista no tema.
Entretanto, há outros métodos informais de avaliação da criatividade que podem medir essa competência de forma mais geral. Alguns exemplos dados por Nakano são a observação do comportamento do aluno em atividades em sala de aula ou no horário livre e o compartilhamento dessa percepção com outros docentes.
“O professor pode indicar aqueles alunos que ele acha que se destacam ou que têm uma criatividade em sala de aula. [Ele também] pode pedir [isso] para professores de várias disciplinas, porque às vezes o aluno tem uma criatividade muito boa na área verbal, mas de repente o professor de matemática não o identificaria como criativo”, exemplifica a psicóloga.
Coordenadora de pesquisa no Instituto Singularidades, Barbara Born também sugere que o professor avalie a criatividade a partir da observação, por exemplo, do desenvolvimento de um projeto. “Então o professor vai ter instrumentos, que são rubricas e estratégias de observação, em que ele está vendo como o aluno está lidando com esses problemas, quais saberes ele está mobilizando e está aplicando para fazer sua proposta”, explica.
Pisa e o pensamento criativo
Por conta da pandemia, os países-membros e associados da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) adiaram a aplicação do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), avaliação internacional com alunos de 15 anos, de 2021 para 2022. Nesta edição da prova, foi incluído um teste inédito de Pensamento Criativo.
Nakano explica que a criatividade é avaliada em duas partes. A primeira é composta por um teste em que os alunos deverão dar respostas usando o processo criativo para elaborá-las, como uma questão de resolução de problemas. A segunda é um questionário em que serão observadas algumas características consideradas típicas de pessoas criativas, como a participação em sala de aula.
“A sociedade que a gente vive hoje é uma sociedade em que o acesso ao conhecimento é fácil. O processamento desse conhecimento e a transformação dele para a produção de coisas novas e relevantes é muito difícil”
Para a especialista, essa mudança no Pisa é muito importante. “Permite que a gente olhe outros aspectos do desenvolvimento que não sejam só aqueles relacionados ao aprendizado que normalmente se faz nas escolas. Olha para outras habilidades que são consideradas essenciais no século 21”, explica.
Por sua vez, Born enxerga essa mudança como uma sinalização para as nações de que o acúmulo de informações não basta. “A sociedade que a gente vive hoje é uma sociedade em que o acesso ao conhecimento é fácil. O processamento desse conhecimento e a transformação dele para a produção de coisas novas e relevantes é muito difícil”, comenta.
Entendendo o que é criatividade
Para conseguir avaliar a criatividade, é importante que o docente esteja preparado para entender o que ela é e qual é o seu papel no desenvolvimento do estudante. “Por exemplo, ainda pensam muito que a criatividade na escola acontece só na aula de educação artística, mas ela pode estar inserida em qualquer outro conteúdo”, afirma Nakano.
“Tem uma questão que é entender que a construção do conhecimento vai além de simplesmente o aluno acumular saberes conceituais e factuais”, comenta Born. “Importa como eu uso esse conhecimento para produzir coisas novas, como eu o aplico para resolver problemas concretos do meu mundo.”
Autora: Aline Naomi
* Conteúdo produzido e editado pelo Porvir.