Professor desde 1992, Marcos Antonio Tenório teve que se reinventar em 2020. Além de voltar para a sala de aula após um período de 15 anos na direção escolar, em meio à pandemia de Covid-19, ele também teve que se adaptar ao trabalho a distância. Em casa, participou de webinários, teve contato com as metodologias ativas e levou essa abordagem para suas aulas de geografia em duas escolas estaduais de Cachoeira de Minas (MG).
Desde então, ele passou a usar a estratégia da sala de aula invertida, incentivar a participação dos estudantes com ferramentas colaborativas, como Padlet e Google Jamboard, elaborar mapas mentais, criar infográficos e gravar podcasts e vídeos.
“Dá mais trabalho usar metodologias ativas do que planejar uma aula comum, mas dá muito mais resultado. Quando você põe o aluno para participar, ele aprende mais. Quando o professor dá uma aula expositiva, só reafirma o que já sabe. Será que 35 alunos estão entendendo o que ele está passando? É preciso refletir sobre isso”, diz Marcos.
“Dá mais trabalho usar metodologias ativas do que planejar uma aula comum, mas dá muito mais resultado. Quando você põe o aluno para participar, ele aprende mais”
A partir do momento que o professor decide mudar a maneira de ensinar, a primeira impressão é que tudo demanda um tempo maior de planejamento. O que é fato. Mas será que não havia momentos em que as metodologias ativas já eram praticadas e só não recebiam esse nome? E mais: será que elas poderiam ser potencializadas de alguma forma? Segundo especialistas, a resposta é sim, mas o processo pode ficar mais fácil à medida que o professor consegue ter clareza a respeito dos objetivos de aprendizagem.
Atividades que possibilitam a colaboração em grupo, em que uns aprendem com os outros, estratégias mão na massa e trabalhos com projetos e desafios, em que os alunos têm que pensar em uma solução para um problema de forma colaborativa, podem marcar o início dessa nova fase. “São atividades que têm mais vocação para que possa aplicar as metodologias ativas”, explica Ana Paula Manzalli, mestre em educação pelo Teachers College da Columbia University (EUA) e cofundadora da Sincrozina Educação.
Essa mudança de abordagem acontece justamente quando o professor deixa de ensinar pelo processo dedutivo, que é conhecido como o modelo convencional, em que ele apresenta a teoria para depois o estudante poder aplicar, praticar, testar e confirmar hipóteses. Com o uso de metodologias ativas, o educador segue pelo caminho inverso e adota o processo indutivo de aprendizagem, que se baseia na curiosidade dos alunos, provoca reflexão e criação de hipóteses, para depois desenvolver o conceito.
Para potencializar o uso das estratégias de aprendizagem ativa, é possível fazer pequenas modificações no planejamento e na rotina de aulas e, assim, estimular o protagonismo dos estudantes. Durante a aula, por exemplo, o professor pode fazer perguntas sobre um tema, e os alunos podem falar sobre o que já conhecem. Apenas depois de discutir em grupo, eles fazem uma leitura e voltam à pergunta inicial para descobrir o que aprenderam e como ampliaram o seu repertório.
“A chave está na intenção pedagógica em transformar o estudo em investigação, seja qual metodologia estiver usando, game, trabalho em grupo, quebra-cabeça, mão na massa”
“A chave está na intenção pedagógica em transformar o estudo em investigação, seja qual metodologia estiver usando, game, trabalho em grupo, quebra-cabeça, mão na massa”, afirma Julia Pinheiro Andrade, fundadora e diretora pedagógica da Ativa Educação.
Em uma aula de ciências, ela exemplifica que o professor pode partir da observação de uma imagem de um bioma. A partir daí, os estudantes formulam perguntas para investigar e estudar o conteúdo. Podem dizer o que vêem, o que pensam, quais dúvidas têm. Com isso, o educador consegue perceber o que eles já sabem e compartilhar o que disseram em uma plataforma digital. Eles também podem fazer registros em um mapa conceitual, usando plataformas colaborativas. Em outro momento, podem apresentar os temas de forma coletiva.
“Este é um exemplo simples de um estudo diversificado, com diferentes momentos, sem cópia de texto. Fica evidente o ganho de compreensão que [os alunos] tiveram do início ao final. Pode ser feito com tudo, uma imagem de arte, um fato histórico, uma representação, um mapa, um quadro numérico. É aplicável a todas as áreas do conhecimento”, diz Julia.
Outro exemplo, de acordo com Ana Paula, é propor um menu de atividades, disposto em um quadriculado de jogo da velha. As atividades mais importantes podem ser as quatro das pontas. O professor pede para o aluno fazer um traço na vertical, horizontal ou diagonal. Ele escolhe as atividades que vai fazer, na ordem que preferir.
“Abre a possibilidade de escolha e garante o objetivo de aprendizagem ao mesmo tempo. Tem efeito forte no engajamento, quando ele percebe que tem controle sobre a forma de aprender, que tem participação. Ajuda na autonomia e responsabilidade”, explica a mestre em educação.
Com as metodologias ativas, as possibilidades de práticas pedagógicas são inúmeras, mas em todos os casos é importante que o professor estabeleça os resultados esperados, com clareza sobre o que os estudantes devem aprender e fazer. Ele precisa definir quais serão as evidências de aprendizagem que pretende observar. “Isso abre um espectro grande de avaliação, que passa longe de prova. Qualquer atividade em que se possa coletar evidências sobre a aprendizagem pode ser considerada uma avaliação”, afirma Ana Paula.
Autora: Fernanda Nogueira
* Conteúdo produzido e editado pelo Porvir.