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Da Educação Infantil ao Ensino Médio: Qual é o espaço para as artes ao longo do currículo?

Para muita gente a Arte não parece ser tão relevante ou imprescindível no currículo escolar, como é o caso de Português e Matemática. Muitas vezes, esse pensamento vem acompanhado do argumento de que ela não “prepara” o estudante para o mercado de trabalho e para o ensino superior. 

Porém, essa é uma visão tradicional de educação, que julga os componentes curriculares de maneira objetiva e tecnicista, quando na verdade eles deveriam ser tratados com mais profundidade. O foco principal da arte-educação não deve ser que o estudante aprenda técnicas artísticas, conheça características de artistas famosos e saiba desenhar “bem”, mas, sim, que se aproprie de todas as possibilidades que a linguagem artística pode oferecer. Entre elas, desenvolver autonomia, autoconhecimento, expressão, posicionamento e aprender a lidar com emoções.

“O foco principal da arte-educação não deve ser que o estudante aprenda técnicas artísticas, conheça características de artistas famosos e saiba desenhar “bem”, mas, sim, que se aproprie de todas as possibilidades que a linguagem artística pode oferecer”

O pensamento tradicional de arte-educação também tende a colocar a Arte como mera auxiliar no estudo de outras áreas consideradas mais relevantes. Ora, é claro que a Arte auxilia o desenvolvimento dos estudantes em diferentes áreas, mas isso ocorre principalmente porque a linguagem artística mobiliza as subjetividades e isso auxilia qualquer ser humano, em todas as esferas da vida, não somente na escola. Daí a importância de a Arte ser reconhecida como um componente do currículo tão relevante quanto os outros. Digamos que a linguagem artística é uma das maneiras mais potentes e eficientes que temos para acessar as nossas subjetividades e do mundo que nos cerca e lidar com elas. 

Mas afinal, como a arte nos ensina a lidar com subjetividades? 

Reconhecendo que a arte-educação não está somente à serviço da técnica, da diversão e dos outros componentes curriculares, podemos considerar que ela é uma linguagem específica, que não pode ser traduzida para a linguagem verbal e nem para a linguagem científica. Quando desenvolvemos a nossa linguagem artística, ampliamos as nossas percepções de vida, mudamos a nossa forma de estar no mundo, de pensar, de encarar os fatos e de atuar na sociedade. 

Estudar arte é estudar a subjetividade. Por exemplo: quando estudantes conhecem trabalhos artísticos de diferentes épocas, produzidos por artistas de diversas origens e contextos, eles têm a oportunidade de ampliar seus repertórios, reconhecendo múltiplos pontos de vista. Isso é essencial para que se tornem indivíduos sensíveis, democráticos, responsáveis, tolerantes e que respeitam as diferenças. 

Outro ponto importante da arte-educação é o recorrente incentivo para tomadas de decisões próprias, o que está diretamente relacionado às subjetividades. Numa etapa de produção artística, o estudante precisa fazer diversos tipos de escolhas autorais e esse é o momento em que ele exercita a capacidade de criar e sustentar percursos próprios. Uma proposta aprofundada de produção de desenho, por exemplo, pode incentivar que o estudante faça planos, crie, teste, recrie, modifique, busque alternativas, mude de ideia, faça escolhas e lide com frustrações e conquistas. O desenvolvimento dessas capacidades é essencial para as nossas vidas, desde a infância até a velhice.

“Quanto mais temos contato e compreendemos múltiplas subjetividades, melhor nos expressamos, convivemos em sociedade, respeitamos a diversidade e atuamos de modo social e político com ética e responsabilidade” 

Quanto mais temos contato e compreendemos múltiplas subjetividades, melhor nos expressamos, convivemos em sociedade, respeitamos a diversidade e atuamos de modo social e político com ética e responsabilidade. Sendo assim, a arte oferece um potencial educativo muito rico e diverso dos outros componentes, pois possibilita o contato, o conhecimento e a expressão daquilo que às vezes é inexplicável em palavras, indefinível por conceitos, mas se faz presente e necessário em nossos cotidianos. 

Arte em todas as etapas escolares 

O trabalho com as subjetividades da arte se faz essencial em todas as etapas escolares pois há especificidades que podem ser desenvolvidas a cada faixa etária. Por exemplo, na Educação Infantil, a Arte fornece possibilidades muito ricas, como o auxílio no desenvolvimento de habilidades de coordenação motora e o desenvolvimento da capacidade de se reconhecerem como indivíduos, percebendo os próprios sentimentos e demonstrando as próprias sensações e desejos. 

Nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, a arte-educação pode auxiliar nos processos de alfabetização, pois estimula processos de percepção, leitura e compreensão de imagens, sons, movimentos e expressões. Nessa faixa etária, os estudantes têm a oportunidade de ampliar os seus repertórios e capacidades de compreensão de signos e significados, potencializando e aprofundando os processos de alfabetização e letramento.

“O importante é garantir que a Arte seja tratada com a devida relevância que possui e que ela não se torne um mero momento de diversão ou de trabalho manual” 

Já nos Anos Finais do Ensino Fundamental e no Ensino Médio, a Arte pode assumir um papel muito conectado à cultura e a sociedade, possibilitando que os estudantes desenvolvam capacidades de crítica, de argumentação e sejam cidadãos responsáveis e atuantes social e politicamente. Para essas faixas etárias, é interessante trabalhar a arte como uma possibilidade de expressão social, de luta por direitos e de expressão de ideais, por exemplo. 

Obviamente, esses são alguns exemplos e as possibilidades da arte-educação são muitas e dependem de cada contexto. O importante é garantir que a Arte seja tratada com a devida relevância que possui e que ela não se torne um mero momento de diversão ou de trabalho manual. Assim como qualquer outro componente curricular, a Arte é essencial para a formação do ser humano e para a vida em sociedade. 

* Conteúdo produzido e editado pelo Porvir.  

BEATRIZ MOGADOURO CALIL 

Mestra em Artes Visuais pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Possui graduação em Artes Visuais – licenciatura e bacharelado – pela mesma universidade. Tem experiência como professora de arte no ensino privado e público de São Paulo e atualmente atua como editora de livros didáticos da área de Linguagens. Também trabalha como artista visual e é autora do livro “Pequeno guia de incríveis artistas mulheres que sempre foram consideradas menos importantes que seus maridos”, Editora Urutau. 

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