Um dos materiais escolares mais comuns é o lápis. Seja de cor ou grafite, grande ou pequeno, redondo ou quadrado, esse instrumento é adorado pelas crianças de qualquer idade, além de ser um importante aliado em seus processos de desenvolvimento. Sendo o lápis tão difundido, como é possível descartá-lo? O que fazer com o lixo que ele cria quando é preciso apontá-lo?
Foi pensando neste problema que os estudantes do então 2º ano do ensino fundamental do Centro Educacional Nossa Senhora Auxiliadora (CENSA), localizada em Campos dos Goytacazes (RJ), criaram o projeto “Lápis Ecológico”. O primeiro passo dessa caminhada foi lançar uma campanha de coleta de restos de lápis por toda a escola. A partir de então, eles realizaram vários experimentos no Espaço Maker da escola, sob supervisão da professora Josiele Sampaio, e concluíram que é possível produzir um lápis ecológico.
“Desde o início do projeto, em 2019, incentivamos que os alunos buscassem uma solução para algo bem próximo da realidade deles”, afirma Josiele. “E aí chegamos ao lápis, um material de uso cotidiano e que tem uma vida útil aparentemente simples, mas imagina o volume de lixo que ele gera todo dia, ainda mais se pensarmos em todas as escolas de nossa cidade, do Brasil e do mundo?”
Reconhecimento a um projeto transformador
O lápis ecológico nada mais é do que um produto reciclado feito a partir da moagem dos restos de lápis que seriam descartados. Para incrementar ainda mais a ação, foi inserida uma semente de crotalária na ponta final do lápis – em que normalmente fica uma borracha – para que seja plantada quando chegue ao fim. A planta ajuda a combater a proliferação do mosquito Aedes aegypti, transmissor de doenças como dengue e chikungunya.
Protagonistas da criação e desenvolvimento do lápis ecológico, os alunos e alunas de Josiele passaram a apresentar o projeto em espaços diversos, como a Semana Intercultural do CENSA e escolas parceiras da rede salesiana. “A nossa escola investe em ambientes de aprendizagem. Então os alunos não ficam restritos à sala de aula. Isso faz uma diferença muito grande na aprendizagem, pois as suas grandes ideias também precisam de espaço e recurso para que sejam colocadas em prática”, aponta.
“A nossa escola investe em ambientes de aprendizagem. Então os alunos não ficam restritos à sala de aula”
Não demorou para que o projeto tivesse sucesso e fosse reconhecido através de premiações e parcerias. Josiele ganhou um selo de Educadora Transformadora, e o projeto foi um dos finalistas do prêmio Criativos da Escola. A escola também estabeleceu uma parceria com a Faber-Castell e hoje é uma das participantes do Programa de Reciclagem de Instrumentos de Escrita. Uma parte dos lápis descartados que não seriam utilizados para o projeto são enviados para a empresa. Josiele conta também que os alunos criadores do lápis ecológico sonham em conhecer a fábrica da Faber.
Responsabilidade ambiental e social
Cientes da responsabilidade ambiental e da necessidade do reaproveitamento dos materiais de uso cotidiano, os estudantes passaram a recolher – conforme o projeto foi avançando – restos de giz de cera e de velas para serem reciclados e se tornarem gizes ecológicos. Hoje, a turma que criou o lápis ecológico – que agora é 100% biodegradável – está no quinto ano, e o projeto é supervisionado pela professora de inglês e matemática Ana Julia Magalhães.
“É muito interessante ver o engajamento e o protagonismo dos alunos neste processo. Em nossas semanas interculturais, também tivemos a oportunidade de envolver os pais e mães na criação do lápis ecológico”, relembra Ana Julia. “Conseguimos perceber com clareza uma evolução da responsabilidade dos estudantes diante do meio ambiente. Além disso, eles entenderam a importância de buscar soluções para os problemas sociais de nossa comunidade”.
“Conseguimos perceber com clareza uma evolução da responsabilidade dos estudantes diante do meio ambiente”
Para a supervisora pedagógica do Ensino Fundamental I do CENSA, Criscilamara das Neves, o projeto trouxe grande evidência para a escola, que está prestes a completar 100 anos de existência.
“Com a criação do lápis ecológico, a cidade está percebendo de fato o quanto a escola está investindo no protagonismo estudantil e na resolução de problemas, trabalhando em consonância com o Pacto Global da ONU”, reflete.
Ela afirma que agora a escola pretende investir no patenteamento do lápis ecológico, para que ele possa ganhar escala no futuro. “Acreditamos que a gente pode mudar e contribuir com a sociedade a partir de ideias das crianças”, finaliza.
Autor: Danilo Mekari
* Conteúdo produzido e editado pelo Porvir.