Ao trabalhar com metodologias ativas, os educadores devem considerar que a avaliação assume um novo papel no processo de ensino e aprendizagem e pode servir como instrumento para apoiar o desenvolvimento dos alunos.
A proposta do australiano Michael Scriven, do final da década de 1960, diz que a avaliação formativa deve acontecer ao longo do processo e com foco na aprendizagem. “É uma mudança de olhar significativa, porque tira a cobrança de que o aluno tem que se virar para aprender com aulas expositivas. Mostra a preocupação com uma mudança de postura dos professores”, explica Luci Ferraz de Mello, consultora sênior em políticas educacionais e sócia-fundadora da LF Edu-Com.
À medida que o professor avalia o processo, ele consegue perceber que parte do trabalho com as metodologias ativas funciona bem e que parte funciona mal. Isso pode ser feito com a mediação da tecnologia, que permite registros mais constantes e verificações e devolutivas mais rápidas. “Quando trabalhada, a postura formativa vai mostrando ao longo do processo como usar o erro como um aspecto positivo. Ela mostra o que precisa ajustar e como do erro pode vir o acerto e novas ideias. Dá outro mindset para criança, jovem e professor”, afirma Luci.
“O eixo estruturante que aumenta o impacto do trabalho do professor é a avaliação formativa”
Nesse processo, a consultora reforça a importância do professor e do feedback construtivo. Esses são os principais fatores que geram reflexo positivo na aprendizagem, segundo estudos do neozelandês John Hattie sobre a aprendizagem visível – que ocorre quando os educadores também se tornam avaliadores de seu próprio ensino. “O eixo estruturante que aumenta o impacto do trabalho do professor é a avaliação formativa”, destaca Luci.
Alguns dos princípios que devem guiar o processo de avaliação formativa são a construção de rubricas, a autoavaliação, a avaliação por pares e o uso de portfólios. O trabalho com rubricas, por exemplo, ajuda o estudante a ter consciência do processo de aprendizagem. “Eles mesmos percebem quando estão prontos para avançar e quando precisam de mais atenção”, diz Danielle Lima, professora de língua portuguesa e coordenadora de projetos da assessoria pedagógica Redesenho Educacional.
Segundo Luci, o professor deve estruturar a rubrica, que pode ser validada com seus pares. Além disso, ele também pode mostrar para os alunos, no primeiro dia de uma atividade, para que eles também validem os critérios de avaliação. Com isso, fica claro o que se espera deles. “O professor precisa verificar com o aluno o que aconteceu no processo, quando teve dúvida, onde, por que participou em alguns momentos e em outros não. Com isso, ele consegue entender o que gosta de fazer ou não, o que quer como propósito de vida. Esse é o grande resultado que se pode ter.”
“Com uma coletânea de evidências, o estudante se olha e consegue se avaliar”
O estudante deve estar no centro do processo, participando da avaliação. Isso pode ser feito de diferentes formas, sempre com uma comunicação clara. Podem ser feitas rodas de conversa sobre os trabalhos, produção textual ou mesmo um questionário digital, que pode incluir uma autoavaliação. “Com uma coletânea de evidências, o estudante se olha e consegue se avaliar”, diz Danielle.
Os portfólios podem ser usados ao final do processo como produto do que os alunos desenvolveram, incluindo registros como mapas mentais e ideias sobre o protótipo. “Dá visibilidade tanto para o professor como para o estudante do que foi produzido”, afirma Luci.
A avaliação entre pares pode ser feita em uma roda de compartilhamento sobre os itens que fazem parte dos portfólios. Por meio dela, os próprios alunos podem oferecer feedbacks aos colegas e podem perceber como o processo de trabalho agregou conhecimento a cada um deles.
Investigação
A professora Luciana Mendonça Rodrigues, que dá aulas para a turma do quinto ano do ensino fundamental na escola municipal São Vicente de Paulo, em Itajubá (MG), usa a avaliação processual. Ela envia formulários digitais para os estudantes e promove conversas informais, atualmente pelo WhatsApp, sempre com foco na avaliação sobre as atividades propostas e na autoavaliação.
“Vejo a avaliação como uma prática de investigação. Funciona como uma provocação para que o aluno queira aprender. Vou identificando os conhecimentos e dificuldades deles. Assim, posso planejar e replanejar minhas práticas de acordo com as respostas que recebo”, explica.
Na construção de rubricas, a educadora envia os critérios para os alunos, para entenderem no que serão avaliados. “Na hora de acessarem e fazerem, percebo que eles têm mais atenção, porque sabem como serão as avaliações.” Antes da pandemia, nas aulas presenciais, ela promovia atividades em grupo, em que incentivava a avaliação entre pares.
Autora: Fernanda Nogueira.
* Conteúdo produzido e editado pelo Porvir.