Não há dúvidas de que a participação da família é fundamental para o desenvolvimento dos estudantes. Apesar de isso ser um consenso na educação, nem sempre é fácil estabelecer uma boa relação de parceria. Muitas vezes o desafio começa pela reunião de pais e responsáveis na escola: enquanto a ausência e o pouco envolvimento são motivos de queixa entre os educadores, por outro lado, os familiares se sentem pouco à vontade para participar desses encontros. É preciso desconstruir a ideia de que esses momentos servem apenas para entregar atividades, apresentar as notas e discutir comportamentos inadequados.
“Temos que desmistificar a ideia de que a reunião serve só para entregar resultados e falar sobre como o aluno está”, ressalta a professora Carla Borges, que atua com turmas de educação infantil e ensino fundamental nas redes municipais de São Joaquim de Bicas e de Sarzedo, em Minas Gerais. “A reunião de pais é um encontro para fortalecer os laços”, defende.
“Temos que desmistificar a ideia de que a reunião serve só para entregar resultados e falar sobre como o aluno está”
Para garantir maior participação dos pais e responsáveis nos encontros presenciais, Carla aposta na criatividade. Em uma dinâmica simples, por exemplo, ela já organizou o portfólio de atividades de toda a turma em pastas coloridas, que traziam na capa apenas o sorriso de cada criança, sem nenhum outro tipo de identificação. “Enquanto alguns pais reconheceram e acharam muito rápido o envelope dos filhos, outros tiveram muita dificuldade”, contou. A partir daí, a dinâmica abriu caminho para uma reflexão sobre o tempo que os responsáveis passavam com as crianças.
Em outra reunião, ela levou para a sala de aula vasos, sementes e terra. “Nós conversamos com os pais sobre o que era necessário para uma planta crescer e florescer. No final dessa dinâmica, quando eles olharam dentro do vasinho, encontraram a foto das crianças. Foi ótimo porque conseguimos fazer um paralelo com o período de alfabetização, em que cada um vai se desenvolver no seu ritmo”, lembra.
Ensinar os pais a confeccionar jogos para serem utilizados em brincadeiras e montar murais coletivos com expectativas em relação ao futuro dos filhos e o trabalho da escola também são estratégias válidas para inovar nas reuniões. “Os professores precisam investir em dinâmicas que fazem os pais aprenderem e colocarem a mão na massa para vivenciar o espaço escolar. Com isso, eles expandem o olhar e experimentam como os filhos se sentem na escola”, afirma.
A partir da sua experiência, Carla defende que a reunião de pais e responsáveis na escola também deve ser um espaço formativo para as famílias. “Esse dia pode ser um momento de formação para ensinar aos pais como proceder com as crianças em casa e também sobre como valorizar o trabalho que elas fazem na escola.”
A importância da escuta
Para ampliar a participação das famílias na escola também é fundamental investir no diálogo. A professora Sandra Cristina da Silva Cassiano, de Natal (RN), reforça que é a partir da escuta que os educadores vão conseguir pensar nas melhores estratégias para acolher os responsáveis. Como exemplo, ela conta a história de quando uma mãe disse durante a reunião que não respondia os recados porque ela não sabia ler e escrever. “Desde então, a gente teve o cuidado de mandar sempre um áudio para essa mãe, porque ela precisava daquele acolhimento para se sentir incluída no grupo de pais.”
Atualmente, Sandra trabalha com o atendimento e a adaptação de conteúdos na Educação Especial. Ela conta que, antes de fazer uma reunião geral com os responsáveis pelas crianças, procura marcar conversas para ouvir as histórias das famílias, seus desafios e entender como poderiam fortalecer a parceria para apoiar o desenvolvimento das crianças. “Enquanto uma professora que valoriza a formação integral do ser, para mim é de extrema importância trabalhar com os pais. É preciso fortalecer essa ligação e construir uma relação de confiança, porque estão nos entregando todos os dias o que eles têm de mais precioso: seus filhos.”
“Eu não acredito que a reunião é um momento só para chegar, falar de nota e falar do desenvolvimento das crianças. Isso é importante, mas é mais importante também criar um espaço para ouvir o que a família tem a dizer”
“Eu não acredito que a reunião é um momento só para chegar, falar de nota e falar do desenvolvimento das crianças. Isso é importante, mas é mais importante também criar um espaço para ouvir o que a família tem a dizer”, indica Sandra.
A professora também não abre mão de construir estratégias criativas para as reuniões. Entre elas, Sandra destaca a experiência do caderno de elogios, em que as famílias foram convidadas a valorizar características e habilidades das crianças e escrever palavras de afeto. “Eles foram incentivados a expressar de alguma forma os sentimentos”, explica.
Assim como a professora Carla, de Minas Gerais, Sandra conta que também já investiu em dinâmicas para os pais reconhecerem os filhos por meio da voz, dos desenhos e da caligrafia. “As famílias começam a adquirir uma autonomia e uma confiança maior, porque elas se sentem acolhidas pela escola. Eu não estou fazendo meu papel sozinha, a escola e a família estão caminhando lado a lado.” Ela ainda completa: “Estamos aqui para possibilitar que tudo aconteça em prol das crianças, mas precisamos usar sempre a sabedoria e a empatia.”
Participação e tomada de decisão
Repensar a participação da família na escola também ajuda a desenvolver um sentimento de pertencimento e de corresponsabilidade pela educação. “Quando a reunião começar a ser entendida como mais uma instância de participação, tão importante como outras já estabelecidas, as famílias terão prazer em participar”, afirma Luana Maria Monteiro Campos, professora de língua portuguesa na rede de ensino de Tremembé (SP).
A partir da sua experiência, ela garante que tratar a reunião como um espaço de participação e de tomada de decisão sobre questões coletivas da escola é uma boa estratégia para engajar pais e responsáveis. “A escola precisa conhecer a família, seus contextos e suas especificidades. Com isso, ela pode integrá-la em momentos de deliberação, desde as mais simples como uma mudança de um brinquedo do parque, como algumas mais complexas, como a construção do projeto político e pedagógico”, destaca.
Para diminuir os ruídos de comunicação e a baixa adesão das famílias na reunião, ela recomenda que esse espaço não seja utilizado com o objetivo de reforçar aspectos negativos ou de fazer comunicados que poderiam ter sido enviados por outros canais. Também é importante compartilhar a pauta do encontro antes com os pais e responsáveis, abrindo um espaço para ouvir sugestões deles. “Se a reunião foi planejada com a participação da família, ela fará sentido para todos, gerando reconhecimento e com isso mais engajamento.”
Dicas para a reunião de pais e responsáveis na escola
A partir da publicação do centro de estudos Harvard Family Research Project, nos Estados Unidos, confira outras dicas para transformar a reunião de pais e responsáveis na escola:
- Conte sobre o desenvolvimento e o crescimento dos estudantes;
- Ajude as famílias a conhecerem metas de aprendizagem e identificar pontos em que os estudantes precisam de apoio;
- Use exemplos para demonstrar o progresso e as habilidades da turma;
- Escute as famílias sobre seus sonhos e esperanças;
- Entenda quais oportunidades educativas as famílias têm disponíveis fora do espaço escolar;
- Compartilhe sugestões de atividades que as famílias podem fazer em casa;
- Evite julgamentos e busque soluções colaborativas;
- Explique como as famílias podem entrar em contato depois da reunião para tirar dúvidas ou conversar.
Confira mais orientações na publicação, disponível em inglês e espanhol.
Autora: Marina Lopes
* Conteúdo produzido e editado pelo Porvir.